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Aprenda a filtrar a informação na Internet - in "Semanário Económico" nº 563, 24 de Outubro de 1997

A Internet é um mar de informação, compre um barco e aprenda a navegar com urgência porque a maior desvantagem que um profissional pode ter é a falta de informação de qualidade como fundamento das suas decisões.

Mas não embarque rapidamente, sem observar as potencialidades do navio onde se vai meter, as suas qualificações técnicas para traçar rumos e finalmente a capacidade de levar os projectos até ao fim. Vamos ver porquê tentando fazer uma viagem nesse mundo de informação.

O tempo e a distância foram decisivamente reduzidos pela capacidade de comunicar através dos computadores, primeiro em redes locais de empresas, depois em redes de várias empresas, hoje em vários países, não há limites!.

As condições de acesso são cada vez mais simples e baratas, vendem-se pacotes com placas, modems e todo o software necessário pronto a instalar no computador.

Logo que fique preparado para a viagem, trace o seu rumo e faça perguntas à rede, isto é, use o ícone de pesquisa que conduz directamente a uma infinidade de motores de busca disponíveis – Yahoo!, WebCrawler, Local City, InfoSpace, AltaVista, etc. Coloque uma palavra relacionada com o assunto que pretende e mande avançar. Não se preocupe com a conta telefónica, a chamada é paga aos preços de uma chamada local, uma utilização diária de meia hora, mais minuto menos minuto, custa cerca de 4 mil escudos mensais incluindo a assinatura.

Pode fazer perguntas sobre fiscalidade à Direcção-Geral de Contribuições e Impostos (DGCI), entrar nos computadores das grandes organizações de auditores ou de contabilistas, consultar o seu horóscopo, ler as últimas notícias dos principais jornais e revistas de todo o mundo, etc. Mas, não se deixe afogar nesse mar de informação. A nossa capacidade de percepção pode ser prejudicada pela quantidade disponível. É uma espécie de efeito funil, o aumento da quantidade de informação não significa necessariamente aumento de conteúdos apreendidos, em regra ao aumento da quantidade disponível corresponde uma redução do fluxo de entrada na mente.

A primeira tentação é imprimir e gravar toda a espécie de material que aparece no ecrã, imagens belíssimas, algumas fazem lembrar a época da praia.

O navegador experiente sabe exactamente o que precisa, não perde tempo, nem dinheiro, nem atenção com pormenores irrelevantes. Identifique as fontes de informação de que precisa, contacte-as por E-Mail ou por carta e faça-se cliente, mesmo que tenha de pagar, o acesso a algumas bases de dados pode ser de uma utilidade extrema. A OCDE tem dados muito interessantes sobre os países que a integram, o serviço Info-LINE do Instituto Nacional de Estatística (INE) está cada vez melhor e acreditamos que possa melhorar muito o nível de actualidade e disponibilidade de informação tendo em conta a credibilidade das fontes de informação institucionais.

Durante a redacção deste artigo fiquei curioso quanto às capacidades efectivas de comunicação dos Portugueses, entrei no INE (info-line) através da Internet e verifiquei que em 1995, os últimos dados disponíveis têm quase 2 anos (mas não é nada mau!), 77,2% tinham telefone, 11,1% tinham computador pessoal, 2,7% tinham telemóvel. Se somos cerca de 10 milhões, podemos dizer que há mais de oito milhões de televisores, de um milhão de computadores e de trezentos mil telemóveis em Portugal, o que é de facto impressionante. Mas, repare que sendo estes valores recolhidos em 1995 é razoável admitir que neste momento sejam diferentes.

A questão que se coloca é: como posso obter uma informação mais actual e credível sem sair de casa ou esperar um mês pela resposta? Como certamente saberá, a imprensa da especialidade diz que existem cerca de um milhão de telemóveis em Portugal, o que não é difícil aceitar, tendo em conta a publicidade que tem sido feita e os bips que se ouvem, na rua, no autocarro, no emprego e noutros locais mais frequentados pelo público. Mas, posso usar esses dados com segurança, fazer projecções com eles e divulgar conclusões tranquilamente? Claro que não! Os resultados seriam inquestionavelmente condicionados pela minha subjectividade.

Com uma segunda visita à rede, depois de uma infinidade de paragens para ler documentos que iam surgindo, tendo como objectivo prioritário estudar o mar de informação disponível, obtive a caracterização do navegador da Internet. Segundo a Telepac, detentora de 80% do mercado, o navegador "é do sexo masculino, tem entre 25 e 45 anos, e tem curso médio ou universitário. O computador que usa é um Pentium, onde corre o sistema operativo Windows 95". A utilização que faz da rede reparte-se da seguinte forma: "em 39% dos utilizadores as intenções lúdicas são predominantes, 43% alega em primeiro lugar razões profissionais, e 17% declara ambas as ordens de motivações".

Se 43% dos utilizadores são profissionais, é pacífico admitir que o mercado da Internet vai prosseguir a sua expansão, nenhuma empresa suspende a produção de um produto enquanto a procura estiver a crescer. Provavelmente prosseguirá o seu aperfeiçoamento. O que poderá melhorar certamente na Internet prende-se com a quantidade, qualidade e actualidade da informação. Muitos utilizadores desta rede defendem que uma parte da informação desta rede é inútil. Devemos, no entanto ser cautelosos quanto a esta ideia, porque toda a informação é relevante para alguém! É um pouco como aquele ditado antigo: "por mais feia que a pessoa seja há sempre alguém que gosta dela". Esta ideia é sempre válida e actual na informação, há uma infinidade de opiniões e de interesses diferentes, cada indivíduo tem a sua subjectividade. Ninguém pode esperar que todas as opiniões sejam iguais.

Além da informação disponível, devemos avaliar a rede também pela sua função de correio. Segundo a Telepac "O correio electrónico e a World Wide Web são de longe os recursos mais utilizados, com predominância do correio electrónico, no caso dos clientes institucionais. São essencialmente os "infonautas" mais jovens que recorrem aos grupos de discussão e à comunicação em directo, e a transferência de ficheiros é operada essencialmente por pessoas ligadas à actividade informática."

Trata-se de uma estação de correio aberta 24 horas por dia durante todo o ano, onde o cliente não precisa de sair de casa para enviar e receber correio. Uma empresa com algumas centenas de empregados em circulação pelo país e pelo mundo pode beneficiar desta importantíssima infra-estrutura de comunicações com um simples computador portátil e um telemóvel. Neste tipo de correio a mensagem pode ser elaborada e cuidada antes de ser enviada, pode esperar pelo destinatário onde este quiser, porque será entregue onde e quando ligar o computador à rede. A mensagem pode ser utilizada imediatamente, copiada e integrada noutra mensagem ou documento. Estamos a muitos anos luz da era do papel como suporte de informação, mas esta mensagem também pode ser impressa e lida por quem não tem computador, nem modem, nem telefone, nem rede, nem tempo, nem paciência para aprender a utilizar um computador!